UE adia acordo com Mercosul e preocupa agricultores europeus

A assinatura do tão aguardado acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Mercosul foi adiada, gerando apreensão tanto no bloco europeu quanto nos países sul-americanos. A decisão, que ainda não representa o fim do acordo, ocorre em meio a uma série de desafios políticos e econômicos que envolvem interesses divergentes dentro da própria UE.

Enquanto o adiamento frustra expectativas, especialistas apontam que a assinatura pode acontecer no início de 2026, desde que haja avanços nas negociações. A seguir, entenda os principais motivos por trás dessa pausa e o que esperar dos próximos capítulos dessa relação comercial.

Crise interna na UE e a pressão dos agricultores

Um dos fatores que mais influenciaram o adiamento do acordo foi a forte pressão dos agricultores europeus. Cerca de 10 mil produtores protestaram recentemente nas ruas de Bruxelas contra os cortes previstos no orçamento agrícola da UE. Essa insatisfação reflete o receio do setor com a entrada de produtos do Mercosul, que alguns grupos veem como uma ameaça direta à produção local.

Além disso, a UE está finalizando novas regulamentações relacionadas à segurança alimentar e inspeção de importações, o que adiciona uma camada extra de complexidade nas negociações. Um episódio recente envolvendo carne bovina brasileira, encontrada com hormônios proibidos, reforçou o temor dos agricultores e alimentou o debate sobre os riscos das importações.

Alinhamentos políticos e interesses divergentes

Outro ponto que complica o cenário é o posicionamento político dentro da Europa. A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, surpreendeu ao se alinhar com o presidente francês Emmanuel Macron, criando um impasse que não está totalmente claro para os analistas. Enquanto o setor agroalimentar italiano é um dos maiores apoiadores do acordo, essa aliança política parece estar relacionada a negociações internas, possivelmente envolvendo o orçamento agrícola ou questões externas, como a situação da Ucrânia.

O cenário político europeu também é marcado por uma maior presença de forças populistas e protecionistas, principalmente no Parlamento, que deve dificultar a aprovação do acordo quando chegar a essa etapa. Já o Conselho da UE, que reúne os chefes de Estado, mostrou-se mais favorável, mas optou pelo adiamento para buscar um ambiente mais propício às negociações.

Importância estratégica do acordo para UE e Mercosul

Apesar dos entraves, especialistas ressaltam que o acordo é fundamental para a diversificação das relações comerciais da UE, especialmente diante da política comercial agressiva dos Estados Unidos e do crescimento econômico da China. A aproximação com o Mercosul pode reduzir a dependência europeia desses mercados e fortalecer laços econômicos com a América do Sul.

Para o Mercosul, a demora na assinatura gera impaciência e preocupação, já que o bloqueio europeu pode prejudicar o crescimento das exportações e a estabilidade econômica da região. Além disso, a suspensão do acordo afeta a credibilidade da UE no cenário internacional, evidenciando divisões internas e enfraquecendo sua influência política e econômica no mundo.

As negociações devem continuar no próximo ano, com reuniões previstas para janeiro, quando espera-se que o clima político esteja mais favorável e que novas propostas sejam apresentadas para garantir a segurança alimentar e tranquilizar os agricultores europeus.

O futuro do acordo entre a UE e o Mercosul ainda está em aberto, mas uma coisa é certa: o interesse em fechar essa parceria permanece vivo. Resta saber se as partes conseguirão superar os desafios e alinhar seus interesses para que a tão esperada assinatura finalmente aconteça.